Sinergias Nº7

Julho, 2018

Collaborative Work and Knowledge Creation

Eis que chegámos ao sétimo número da revista científica Sinergias – Diálogos educativos para a transformação social, o último número editado no âmbito desta edição do projeto Sinergias ED: fortalecer a ligação entre investigação e ação na Educação para o Desenvolvimento em Portugal. Já são quase cinco anos de projeto Sinergias ED, dividido em duas edições: a primeira de 2013 a 2015 e a segunda iniciada em 2016 e que terminará neste mês de julho de 2018. É habitual, quando algo corre bem, dizer-se “até parece que foi ontem que tudo começou”. Na verdade, olhando para o início do projeto e para todo o processo que se desenvolveu desde aí, com reuniões e encontros entre pessoas e entidades que resultaram em inúmeras ligações, reflexões e aprendizagens coletivas; com revistas temáticas editadas e discutidas ao pormenor; e com vários momentos de construção de conhecimento coletivo sobre Educação para o Desenvolvimento, o “ontem” parece, à primeira vista, remeter-nos para um tempo demasiado próximo e curto. É, no entanto, bom sinal parecer que foi ontem que tudo começou, mesmo que seja um “ontem” longo e cheio de “bagagens”, significa que o projeto Sinergias ED tem corrido bem e está cheio de “amanhãs”1.

No percurso traçado e percorrido pelas várias entidades que se foram envolvendo ao longo dos anos, o pano de fundo do projeto tem sido tecido pelas ligações entre a investigação e a ação em Educação para o Desenvolvimento em Portugal. O Sinergias ED, na sua base, pensou estas ligações a serem materializadas entre dois tipos distintos de organizações: Instituições de Ensino Superior (IES) e Organizações da Sociedade Civil (OSC). O projeto quis proporcionar a criação de espaços específicos onde pessoas ligadas a estes tipos de entidades pudessem dialogar, questionar, construir e aprender em conjunto partindo dos seus interesses e das suas práticas em Educação para o Desenvolvimento. Esta atividade, a dinamização de processos colaborativos entre IES e OSC, e o espaço que proporcionou para o interconhecimento entre pessoas e entidades, para o seu envolvimento nos processos colaborativos e no próprio projeto Sinergias ED, apresentou-se (e continua a apresentar-se) como paradigmática na preocupação do Sinergias ED em estabelecer e facilitar ligações.

Esta preocupação tem sido transversal às duas edições do projeto, não significando isto que a segunda edição fosse apenas a replicação da anterior. Partindo dos resultados da dinamização de um exercício de Sistematização de Experiências2 na primeira edição do projeto, em que os/as participantes puderam refletir em conjunto sobre as suas experiências reconhecendo alguns fatores importantes do que foi para si o trabalhar  colaborativamente3,  introduziram-se mudanças e desafios aos novos processos colaborativos da segunda edição. Algumas destas mudanças fizeram com que, de pares de organizações diferentes a elaborar um estudo/artigo colaborativo na primeira edição do Sinergias ED, se passasse à possibilidade de criar grupos colaborativos compostos por várias organizações, com uma multiplicidade de intervenções na segunda edição, desde estudos/artigos a ações diversas no âmbito da Educação para o Desenvolvimento. Estas alterações trouxeram (muitas) novas pessoas e instituições ao projeto, e com elas novas formas de colaborar e de dialogar, trazendo não só conteúdos, mas também questionamentos, para um novo número da revista Sinergias – Diálogos educativos para a transformação social.

As revistas editadas no âmbito do projeto Sinergias ED são resultado de processos reflexivos questionadores que, invariavelmente, originam vários momentos críticos. Estes momentos têm a vantagem de conter em si mesmos fatores geradores de aprendizagem lançados à equipa de projeto. Temáticas e questões estruturais do projeto são discutidas, debatidas, relevadas e consensualizadas, moldando a revista de número para número e, consequentemente, o pensamento sobre o próprio projeto.

O que significa “ser científico”? Quem tem legitimidade e poder para atribuir esta distinção? Como se constrói o conhecimento? Que conhecimento(s) é(são) válido(s)? Que papel tem a Educação para o Desenvolvimento nestes questionamentos? E como pode a ED simultaneamente ir incorporando e dando corpo ao discurso e às práticas relacionadas com a construção colaborativa de conhecimento? Estas (e muitas outras) questões vão ajudando a pensar e a estruturar as revistas e, também, a construir conhecimento em ED de forma colaborativa. Foi assim no número três da revista Sinergias4 onde foram publicados os estudos resultantes dos pares colaborativos. É assim também neste número que aqui se apresenta.

O sétimo número da revista abre de novo as portas do projeto e propõe um caderno temático composto por um artigo inicial enquadrador e um conjunto de dois artigos e cinco registos de memórias elaborados por alguns dos grupos colaborativos participantes nesta edição do Sinergias ED. Este caderno propõe dar a conhecer os processos colaborativos que se foram desenvolvendo ao longo destes dois anos de projeto, as pessoas e organizações que participaram neles e as principais aprendizagens que fizeram durante este período. Ao todo foram 30 as entidades que participaram de forma continuada nos  encontros  entre  IES e OSC5, construindo dinâmicas de grupo diversificadas, cada qual lidando com os desafios e dificuldades próprias de quem se propõe a trabalhar e a construir algo em coletivo. E as formas como estes processos decorrem têm-se revelado muito significativas no que diz respeito às aprendizagens feitas no âmbito das relações colaborativas, não só para as pessoas e entidades que têm vindo a participar no Sinergias, como também para as pessoas que fazem parte da equipa do projeto. Nem todos os grupos chegaram a uma ação ou a um estudo, no entanto, no projeto Sinergias ED temos vindo a descobrir que as aprendizagens mais significativas acontecem exatamente no diálogo entre o processo e o produto. Os artigos e registos que constam neste caderno dão a conhecer uma variedade grande destas aprendizagens, trazendo uma dimensão de diversidade que sempre se pretendeu também ser uma característica deste projeto.

Inicia-se o caderno temático pelo artigo proposto por La Salete Coelho, que faz um enquadramento dos trabalhos colaborativos propondo uma abordagem analítica, a Engaged Excellence in Research, baseada em quatro pilares, um dos quais a construção colaborativa do conhecimento, através da qual olha, de uma forma preliminar, para o caso concreto dos processos colaborativos da primeira edição do projeto Sinergias ED.

Partindo da sua experiência de acompanhamento e participação no projeto Sinergias ED, Cecília Fonseca, no capítulo dedicado ao Debate, reflete sobre as relações entre a Educação Popular e outros processos político-pedagógicos, focando no caso concreto da ED e deste projeto, no percurso feito pelas pessoas e entidades participantes; nas convergências que existiram ou não; e nos questionamentos que emergiram no diálogo entre a Educação Popular e a Educação para o Desenvolvimento.

Alejandra Boni (Valência, Espanha) e Jorge Cardoso, na rubrica Diálogo, encerrama a temática numa interessante troca de ideias sobre o que está subjacente à construção colaborativa de conhecimento e ao seu potencial transformador, tendo como pano de fundo as reflexões sobre as práticas e as experiências da educadora.

Nesta edição publica-se ainda uma visão sobre o documento “World Social Science Report 2016 – Challenging Inequalities: Pathways to a Just World” que nos é dada por Amanda R. Franco e duas recensões críticas que abordam e analisam dois trabalhos distintos, mas ambos sobre temáticas importantes para a ED: Análise Crítica do Discurso e a Avaliação de impacto em ED. A primeira, apresentada por Hui Li, sobre o trabalho de María Martínez Lirola, “La importancia del análisis crítico del discurso y la gramática visual para analizar textos”, e a segunda elaborada a duas mãos por Anne Kaboré Leroy e Lise Trégloze sobre a publicação “Sur le chemin de l’impact de l’éducation au développement et à la solidarité internationale. Repères méthodologiques pour apprécier ce qui est en mouvement”.

Como tem vindo a acontecer em todas as edições da revista Sinergias, publicam-se ainda diversos materiais e recursos recentes, bem como resumos de trabalhos académicos considerados relevantes no domínio da Educação para o Desenvolvimento.

Olhando de novo pelo retrovisor, no editorial do terceiro número da revista Sinergias lê-se que o projeto, ao promover “várias formas de colaboração entre ensino superior e sociedade civil” e “diferentes reflexões sobre os processos que lhes estão subjacentes”, propõe-se como um apoio e estímulo à consolidação de espaços comuns de aprendizagem, colaborativos e sinérgicos.

Parece-nos assim que, desde o seu início, o projeto Sinergias ED foi tomando a forma de processo de experimentação destes “espaços comuns de aprendizagem” construindo, a partir deles, as suas práticas futuras, experimentando e aprofundando o que significa colaborar e o que significa fazer do conhecimento uma construção de saberes novos e significativos, onde todas as pessoas sintam que têm o seu lugar. Este número da revista Sinergias pretende exatamente continuar este percurso coletivo.

[1] O projeto Sinergias ED iniciará a sua terceira edição em Agosto de 2018.

[2] Aqui pode ver o relatório final deste exercíco: http://www.sinergiased.org/index.php/ies-osc/sistematizacao-de-experiencias[3] http://www.sinergiased.org/images/biblioteca/se.aprendizagens.pdf[4] Pode ser consultada aqui: http://www.sinergiased.org/index.php/revista/itemlist/category/33-revista-3-fevereiro-2016[5] Aqui pode consultar a lista de entidades que participam nos grupos colaborativos desta edição do projeto Sinergias ED: http://www.sinergiased.org/index.php/ies-osc/trabalhos-colaborativos-2-edicao

Artigos

  • La Salete Coelho - Sinergias ED - Uma experiência-piloto de construção colaborativa de conhecimento

  • Alexandre Martins, Eliana Madeira & Teresa Gonçalves - O caminho e o destino: Reflexões a partir de um trabalho colaborativo na área da Educação para o Desenvolvimento

  • Ana Castanheira, Antónia Barreto, Filipe Santos, Maria Inês Santos & Mónica Silva - Avaliação por pares ou amigos-críticos: O caso do projeto "Coordenadas para a Cidadania Global"

Registro de Memórias

  • Albertina Raposo, Dalila P. Coelho, Helena Salema, Hugo Marques, Jorge Cardoso & Marta Uva - Contributo para a validação do Referencial de capacitação em Educação para o Desenvolvimento - uma proposta Sinergias ED

  • Alfredo Gomes Dias, Cecília Fonseca, Cristina Martins & Ilda Freire Ribeiro - A Educação para o Desenvolvimento numa colabor(ação) entre Escolas Superiores de Educação e uma Organização da Sociedade Civil

  • Andreia Soares, Filipe Martins, La Salete Coelho, Luís Grosso Correia, Paulo Costa, Tânia Neves, Teresa Martins & Vanessa Marcos - Educação para o Desenvolvimento e para a Cidadania Global: Propostas e desafios em diferentes contextos educativos

  • Rosa Carreira, João Leitão & Marta Alves - À volta do UBICOOL - Uma experiência colaborativa em construção e construtiva

  • Ana Teresa Oliveira, Mário Montez & Stéphane Laurent - Justo para quem? - Animação Socioeducativa e o Comércio Justo. Memória e práticas e aprendizagem em sinergia CIDAC E ESEC

  • Cecília Fonseca - Sobre a aplicação de abordagens de Educação Popular a processos colaborativos num projeto de Educação para o Desenvolvimento

  • Entrevista Sinergias ED a Alejandra Boni

  • Amanda R. Franco - World Social Science Report 2016 - Challenging inequalities: Pathways to a just world

  • Hui Li - La importancia del análisis crítico del discurso y la gramática visual para analizar textos. Propuesta de actividades enmarcadas en la Educación para el Desarrollo, La Educación con perspectiva de género y la Educación para la Paz

  • Anne Kaboré Leroy & Lise Trégloze - Une recherche action sur l'impact de l' Education à la Citoynneté et à la Solidarité Internationale: c'est possible et ça fait du bien

  • As invasões francesas - identidade, memória e Educação para o Desenvolvimento

  • Mochila do soldado - partir da guerra para a paz

  • Migrações e Desenvolvimento

  • Educação Popular e Economia Solidária no Nordeste

  • Catarina Ferreira Oliveira - A Educação para o Desenvolvimento nas aprendizagens do português

  • Tânia Marisa Vieira Barbosa Pinto Passos - A Educação para o Desenvolvimento na leitura: uma abordagem no 1º ciclo do ensino básico

Nome da Revista: “Sinergias – diálogos educativos para a transformação social”.

Propriedade: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP), CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral e Fundação Gonçalo da Silveira (FGS), no âmbito do projeto Sinergias ED: fortalecer a ligação entre investigação e ação na Educação para o Desenvolvimento em Portugal, cofinanciado pelo Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, apoiado pela Fundação Calouste Gulbenkian e pela Reitoria da Universidade do Porto.

Periodicidade: Semestral.

Grafismo e Paginação: Megaklique e Rui da Silva.

Edição: Centro de Estudos Africanos da Universidade do Porto (CEAUP), CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral e Fundação Gonçalo da Silveira (FGS).

Conselho Científico: Alejandra Boni (INGENIO-CSIC, Univ. Politècnica de Valencia.ES), Alexandre Furtado (Fundação para a Educação e Desenvolvimento.GB), Ana Isabel Madeira (Inst. Educação-Univ. de Lisboa.PT), Antónia Barreto (Escola Superior de Educação e Ciências Sociais-Inst. Politécnico de Leiria.PT), Cristina Pires Ferreira (Univ. de Cabo Verde.CV), Douglas Bourn (Inst. of Education-Univ. of London.UK), Elizabeth Challinor (Centro em Rede de Invest. em Antropologia-Univ. do Minho.PT), Filipe Martins (Centro Estudos de Desenv. Humano da Univers. Católica Portuguesa; Rede Inducar), Júlio Santos (Centro de Estudos Africanos da Univ. Porto.PT), Karen Pashby (Univ. of Manchester.UK), Liam Wegimont (Global Education Network Europe), Luísa Teotónio Pereira (Global Education Network Europe), Manuela Mesa (Centro de Educación e Investigación para la Paz.ES), Maria Helena Salema (Inst. Educação-Univ. de Lisboa.PT), Maria José Casa-Nova (Inst. Educação-Univ. do Minho.PT), María Luz Ortega (Univ. Loyola Andalucia.ES), Matt Baillie Smith (Northumbria Univ.UK), Nuno da Silva Gonçalves (Pontificia Univ. Gregoriana.IT), Teresa Toldy (Univ. Fernando Pessoa.PT), Vanessa de Oliveira Andreotti (Univ. of British Columbia.CAN).

Conselho Editorial: Cecília Fonseca, Hugo Marques, Jorge Cardoso, La Salete Coelho e Tânia Neves.

Avaliadores do presente número: Albertina Raposo (Escola Superior de Educação-Inst. Politécnico de Beja.PT), Dalila P. Coelho (Centro Inv. e Intervenção Educativas-Fac. Psicologia e Ciências da Educação da Univ. Porto.PT), Maria Helena Salema (Inst. Educação-Univ. de Lisboa.PT), Hugo Marques (Fundação Gonçalo da Silveira.PT), Jorge Cardoso (Fundação Gonçalo da Silveira.PT), Marta Alves (Universidade da Beira Interior.PT), Marta Uva (Escola Superior de Educação-Inst. Politécnico de Santarém.PT), Rosa Carreira (CooLabora.PT), Teresa Toldy (Univ. Fernando Pessoa.PT).

Traduções, revisão gráfica e de textos: Alejandra Boni, Cecília Fonseca, Hugo Marques, Jorge Cardoso, La Salete Coelho, Rui da Silva, Sara Borges, Stéphane Laurent e Tânia Neves.

Informações de depósito legal e issn: ISSN 2183-4687

Revista com arbitragem científica: os artigos são da responsabilidade dos seus autores.

[1] Para melhor o podermos fazer, convidamos os leitores a partilhar connosco os seus comentários e sugestões para os próximos números, para os seguintes contactos:  ceaup.ed@gmail.com e  ed@fgs.org.pt.

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