Conselho Editorial

No âmbito do projeto Sinergias ED realizou-se no passado dia 14 de janeiro, em Lisboa, um encontro entre revistas científicas na área da Educação para a Transformação Social. Esta iniciativa aconteceu na sequência do Encontro Internacional “Sinergias para a transformação social – diálogos sobre Desenvolvimento”1.

O evento, facilitado por Luísa Teotónio Pereira (CIDAC) e Alejandra Boni (Universidade de Valência), acolheu representantes de oito revistas de diferentes geografias: Portugal – Sinergias – diálogos educativos para a transformação social; Espanha – Educación Global Research e Rizoma Freireano; Alemanha – ZEP – Journal on International Education Research and Development Education; Irlanda – Policy and Practice – a Development Education Review; Reino Unido – International Journal of Development Education and Global Learning; Canadá/Brasil – Critical Literacy Theories and Practices Journal; e América Latina/Caribe – La Piragua. A iniciativa pretendeu promover e fortalecer sinergias a nível internacional entre as revistas científicas presentes e desenvolver futuras parcerias.

A revista Sinergias – diálogos educativos para a transformação social foi a impulsionadora desta intenção de criação de sinergias internacionais; pela sua natureza linguística – aceita artigos em português, inglês e castelhano2 –, pela constituição de um Conselho Científico com investigadores e educadores internacionais e pelo contacto privilegiado com alguns centros de investigação europeus, potenciou, a partir do seu desenvolvimento e divulgação, a constituição informal de várias ligações fora do contexto nacional, fundamentais para a sua consolidação e reconhecimento. Esta rede de contactos nacionais e internacionais permitiu, não só a obtenção de contributos muito relevantes para a revista, como também uma adesão e apropriação que se fez sentir em Portugal e no contexto internacional. Fruto desta aproximação científica com outros pares e da organização de um Encontro Internacional, de encerramento do projeto Sinergias ED, considerou-se relevante e útil a promoção deste encontro de revistas científicas.

Para concretizar os objetivos planeados, o programa do encontro criou dois momentos distintos mas complementares: no primeiro procurou-se promover um espaço para o conhecimento mútuo entre as revistas e no segundo a procura por um caminho futuro de colaboração.

No primeiro momento os participantes foram desafiados a apresentarem as razões que justificam a existência da revista (‘porquê’), a definirem o público-alvo da revista (‘quem’) e a identificarem as prioridades para os próximos três anos (‘o quê’).

As apresentações facilitaram o conhecimento mútuo e permitem destacar algumas ideias-chave. Em relação ao ‘porquê’, a ligação com outras revistas similares e com um público mais alargado, particularmente a partir da necessidade de criação de pontes mais efetivas entre o universo académico e os contextos de prática e do reforço da ligação com outros setores relacionados com a área da educação, foram algumas das razões apresentadas. Uma maior disseminação do conhecimento produzido foi apontada também como uma das principais razões que levaram à criação destas revistas, numa lógica de divulgação, partilha e debate. De forma mais particular, apontou-se também a necessidade de melhoria das capacidades/competências em Educação para o Desenvolvimento (ED), nomeadamente através de um impulso de um conhecimento mais generalizado sobre os temas da Cidadania Global e ED. Foi igualmente identificada a urgência de desenvolver o pensamento e a análise crítica, através da promoção de espaços/momentos de reflexão, quer em contexto escolar, como com um público mais alargado. Ainda no âmbito deste primeiro tópico, identificou-se o estudo de temáticas específicas dentro do assunto central de cada revista, relacionado com a Educação para a Transformação Social, como o mapeamento de experiências na América Latina sobre Educação Popular, a criação de recursos sobre pedagogia e metodologias de reflexão crítica em Educação para o Desenvolvimento ou a integração da investigação no contexto educativo formal como processo criativo e de desenvolvimento, apenas para citar algumas.

No que respeita à identificação do público-alvo, salientaram-se três grandes grupos de atuais e potenciais leitores das várias revistas: os educadores, onde se incluem os atores de organizações da sociedade civil que trabalham na área da Educação para a Transformação Social, bem como professores e outros educadores interessados em desenvolver uma educação enquanto processo de cidadania e de áreas relacionadas, como a Educação para a Paz, a Educação para os Direitos Humanos, a Educação para o Desenvolvimento Sustentável, entre outros; a academia, onde se integram professores e estudantes, investigadores e as próprias instituições educativas; o sector político, estando aqui incluídos as organizações públicas de caráter nacional e internacional, as Organizações Não-Governamentais e os restantes policy-makers.

Finalmente, em relação às prioridades futuras das revistas participantes, destaca-se: a criação/reforço de parcerias internacionais, através do impulso da ligação com outros atores, com vista à criação de sinergias que potenciem a produção e disseminação de conhecimento, a acessibilidade linguística e a partilha de boas práticas; a troca de experiências “Norte-Sul”, particularmente a partir do reforço da partilha de experiências, abordagens teóricas e metodológicas do “Sul” e do desenvolvimento de uma ligação intergeracional nesse diálogo entre “Norte” e “Sul”; a exploração de tópicos específicos, como a Educação para o Desenvolvimento no contexto educativo formal, a Educação Popular nas Universidades e a influência das políticas educativas nos contextos nacional e internacional; algumas preocupações de natureza institucional, no que respeita ao reconhecimento e visibilidade internacional das próprias revistas e à relevância da sua presença em plataformas de conhecimento científico certificado.

Este primeiro espaço de partilha gerou um debate entre os participantes, que se consolidou em algumas pistas de reflexão. Identificou-se a língua/idioma como uma questão essencial para a edição e publicação destas revistas, especialmente como potencial de acesso à produção de conhecimento nesta área. Reconhecendo o inglês como língua dominante e a limitação da publicação de edições numa só língua como fator de exclusão no acesso ao conhecimento produzido, algumas das revistas têm os seus números disponíveis em mais do que um idioma, em resposta à diversidade do público que as leem, ou os seus artigos científicos traduzidos, o que exige do conselho editorial um esforço superior na edição e revisão das peças. Evidenciou-se ainda que o esforço por estabelecer uma ligação com investigadores internacionais e revistas com publicações noutras línguas é fundamental se se quer construir caminhos mútuos de aprendizagem. Neste sentido, o universo francófono é um potencial parceiro de colaboração, pela extensão da literatura produzida nesta área

Na sequência da identificação dos públicos-alvo de cada revista, refletiu-se também sobre o pressuposto de cada publicação, particularmente no que diz respeito ao conhecimento produzido pela academia e àquele que tem lugar a partir da prática, e se faz sentido uma distinção entre estas duas formas de conhecimento. Concluiu-se que, mais do que esta questão, o desafio a este nível é procurar construir sinergias entre os dois universos, reconhecendo as suas fronteiras e a necessidade de um trabalho colaborativo. Para isso, é necessário um alerta para três dimensões: a forma de outorgação e/ou preservação da credibilidade do conhecimento produzido pela academia e também àquele que é adquirido na prática; a manutenção da ligação entre estes dois universos sem perder o público específico de cada um dos setores; a possibilidade, indesejada, da ligação entre a academia e a prática poder diminuir a credibilidade científica junto de investigadores ou da academia em geral.

Para responder a estas considerações, considerou-se ser fundamental uma tentativa de trabalho colaborativo entre Instituições de Ensino Superior e Organizações da Sociedade Civil, tornando-as atores privilegiados neste processo de produção de conhecimento, tal como foi priorizado no projeto Sinergias ED. Ao mesmo tempo, e de forma concisa, julgou-se pertinente a necessidade de uma clarificação dos públicos e dos propósitos da revista, para depois se pensar em soluções específicas para cada um dos universos, como, por exemplo, a criação de diferentes secções dentro de cada revista, dirigidas a grupos diferenciados.

Finalmente, e neste seguimento, surgiu a questão da credibilidade científica como tópico fundamental. Reconheceram-se algumas plataformas e mecanismos, como são exemplos o DOI – Digital Object Identifier e a Indexation, como cada vez mais relevantes para uma suposta legitimação científica, ora para os autores dos artigos, pelo reconhecimento científico atestado ao nível académico, ora pelo acesso a este tipo de documentos, condicionado na maioria das circunstâncias a subscritores. Todavia, os custos e procedimentos envolvidos com estes mecanismos fomentam uma lógica de comercialização do conhecimento, fomentando uma tendência que considera que as revistas que não estão integradas numa destas plataformas têm a sua cientificidade e seriedade metodológica colocadas em causa. Para as revistas presentes neste encontro estas ideias são contrárias àquele que se entende ser o modelo democrático de acesso ao conhecimento que se pretende promover, disseminado em plataforma de open-acess, para o alcance de um maior número de leitores.

No segundo momento do encontro, dedicado às possibilidades de trabalho colaborativo entre as revistas, surgiram propostas concretas para o futuro: determinou-se a necessidade de trabalho e reflexão conjuntos, de forma continuada, sobre questões comuns e com interesse partilhado (como são os idiomas de publicação, as plataformas e os mecanismos de validação científica, modelos de qualidade, relevância e acessibilidades das revistas, entre outros), através do contacto regular entre os representantes das revistas. Considerou-se ainda essencial alargar a possibilidade de cooperação a outras revistas ou centros de investigação desta área. Finalmente, decidiu-se ainda a organização de outras futuras iniciativas conjuntas, nomeadamente um simposium ou uma conferência académica sobre Educação para a Transformação Social.

O trabalho colaborativo realizado com este grupo alargado e diversificado de parceiros revelou-se assim fundamental para a partilha e reflexão sobre as diversas práticas e para a consolidação da aprendizagem em Educação para a Transformação Social. Este é um processo educativo dinâmico e interativo que potencia a cooperação e a partilha solidária de ideias e interesses comuns e que está fundamentado na produção de conhecimento de qualidade através da valorização científica deste universo e da qualidade da sua reflexão e intervenção. Neste sentido, o desenvolvimento de sinergias entre revistas académicas, particularmente a nível internacional, potencia a criação de um espaço de reflexão crítica sobre os paradigmas que estão na base do nosso exercício enquanto educadores e investigadores, bem como sobre os nossos instrumentos e modos de atuação privilegiados.

 


[1] Para mais informações, veja aqui.

[2] A partir do seu nº 5, aceitará também artigos em francês.

 

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