Instituições (OSC e IES) envolvidas: Escola Superior de Educação de Lisboa; CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral; ARIPESE – Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação; Escola Superior de Educação de Bragança.
Quem fez o registo: Alfredo Gomes Dias (Escola Superior de Educação de Lisboa); Cecília Fonseca (CIDAC – Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral); Cristina Martins (Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação); Ilda Freire Ribeiro (Escola Superior de Educação de Bragança1).
Data de elaboração do registo: dezembro 2017 – abril 2018
Palavras-chave: Educação para o desenvolvimento; Colaboração OSC-IES; Participação; Cidadania Global; Escola Superior de Educação; Formação inicial de educadores/as e professores/as.
Resumo
Nesta memória apresenta-se o trabalho desenvolvido por um grupo colaborativo constituído por elementos da Escola Superior de Educação de Bragança, a Escola Superior de Educação de Lisboa, o Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral e a Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação, envolvido na organização do “II Encontro: A educação para o desenvolvimento nas Escolas Superiores de Educação”. Inclui a contextualização do trabalho desenvolvido, explicitando os motivos da realização da ação, o relato do Encontro, dando ênfase aos resultados emergentes das questões debatidas, e por fim, uma reflexão, salientando o impacto da colaboração nas instituições envolvidas, as aprendizagens realizadas, bem como perspetivas para novas ações.
- Contextualização
No âmbito do projeto Sinergias ED foi desenvolvida a ação colaborativa entre a Escola Superior de Educação de Lisboa (ESELx), a Escola Superior de Educação de Bragança (ESEB), o Centro de Intervenção para o Desenvolvimento Amílcar Cabral (CIDAC) e a Associação de Reflexão e Intervenção na Política Educativa das Escolas Superiores de Educação (ARIPESE) conducente à realização do “II Encontro: A educação para o desenvolvimento nas Escolas Superiores de Educação”. Esta decorreu entre 2017 e 2018, dando continuidade ao trabalho desenvolvido, entre 2014 e 2016, pela ESELx e o CIDAC e que incluiu a realização de um primeiro Encontro de Escolas Superiores de Educação (ESE) sobre Educação para o Desenvolvimento / Educação para a Cidadania Global (ED/ECG).
O principal objetivo deste encontro foi promover a reflexão sobre a ED/ECG no campo da formação inicial e contínua de educadores/as de infância e professores/as do ensino básico. Decorreu no dia 16 de maio de 2016, na ESELx, contando com a participação da Fundação Gonçalo da Silveira (FGS), do CIDAC, da ARIPESE e de oito Escolas Superiores de Educação (ESE), concretamente de: Bragança, Castelo Branco, Coimbra, Lisboa, Porto, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu. Da avaliação deste primeiro Encontro sobressaiu, entre outros aspetos, a importância dos momentos de partilha de saberes e experiências entre as diferentes ESE, na área da ED/ECG, tendo-se sublinhado a relevância da continuidade do processo reflexivo iniciado e decidido promover um II Encontro das ESE sobre esta área de trabalho.
Dando seguimento a este desafio, na segunda fase do projeto Sinergias ED, foi organizada uma nova parceria colaborativa que associou a ESEB, a ESELx, o CIDAC e a ARIPESE. Esta parceria assumiu como tarefa prioritária a preparação, organização, implementação e avaliação do segundo encontro das ESE sobre formação em ED/ECG, que teve lugar na ESEB, no dia 20 de outubro de 2017. Este contou com a participação das ESE de: Bragança, Lisboa, Porto, Santarém, Setúbal, Viana do Castelo e Viseu.
A primeira etapa da ação colaborativa consistiu em delinear os objetivos do Encontro, as formas de trabalho colaborativo e um plano de ação. Os objetivos definidos foram: (i) mobilizar as ESE para a promoção da ED/ECG na formação inicial de educadores/as e professores/as; (ii) refletir sobre as responsabilidades/oportunidades das ESE na formação dos/as educadores/as e professores/as, a partir das linhas de orientação política que têm vindo a ser divulgadas; (iii) definir linhas de ação para as ESE promoverem formação em ED/ECG; e (iv) aprofundar o trabalho colaborativo entre as ESE e as Organizações da Sociedade Civil (OSC), enquanto estratégia fundamental para garantir uma formação alicerçada nos seus diferentes contextos de intervenção. As formas de trabalho colaborativo traduziram-se em três reuniões presenciais e outras reuniões/comunicação à distância com recurso a meios digitais, como por exemplo, a videoconferência e o correio eletrónico. O plano de ação centrou-se essencialmente na definição dos objetivos do Encontro, na operacionalização dos meios necessários para a sua realização e na reflexão sobre todo o processo.
2. A formação em ED/ECG nas Escolas Superiores de Educação
O programa do Encontro, para além das sessões de abertura e encerramento, englobou: (i) uma conferência inaugural intitulada “Educação para o Desenvolvimento: convergência com a Estratégia Nacional de Educação para a Cidadania”, proferida pela Dra. Maria José Neves da Direção-Geral de Educação; (ii) duas comunicações relativas a estudos realizados nas ESE no âmbito da ED/ECG: um sobre práticas de ED/ECG nas ESE em Portugal e outro realizado na ESE de Bragança cujo objeto de estudo foi o entendimento dos e das estudantes do ensino superior sobre a influência da formação superior no exercício da cidadania global; (iii) momentos de debate e reflexão, em pequenos grupos e em plenário, sobre questões relacionadas com a ED/ECG nas ESE; e (iv) construção de um mural de considerações para o futuro.
Nesta memória damos ênfase ao ponto (iii), dado ser aquele que cruza os tópicos discutidos nos vários momentos do Encontro com as experiências dos e das participantes, no campo da ED/ECG, nas suas instituições. Este momento foi orientado por três questões: (i) Há uma cultura de ED nas ESE?; (ii) Como se percebe a formação promovida nas ESE em relação à capacitação dos estudantes em ED?; e (iii) Que desafios se colocam nas ESE na promoção da ED/ECG?
Os grupos foram formados de modo aleatório com recurso à construção de puzzles alusivos ao tema do Encontro. Cada grupo incidiu numa das questões e, após as discussões geradas, sintetizou as principais ideias discutidas num poster (vide figura 1).
Figura 1 – Posters elaborados pelos 3 grupos de trabalho
Apresentamos, de seguida, as principais considerações expostas por cada grupo, no momento da apresentação, debate e reflexão em plenário.
Grupo I – Há uma cultura de ED nas ESE?
Para esta questão foram definidos, previamente, os objetivos (i) perceber se as questões relacionadas com ED são uma preocupação nas ESE; e (ii) identificar constrangimentos e potencialidades da ED nas ESE. A discussão gerada foi sistematizada, tendo por base as seguintes questões:
- a) O que temos? O grupo começou por perceber de que forma cada ESE promove uma cultura de ED junto da comunidade escolar. Reconheceu a existência de unidades curriculares (UC) específicas com programas orientados para a ED e de seminários incluídos em diversos planos de atividades dos cursos de formação inicial. As práticas pedagógicas/educativas implementadas pelos docentes das ESE, bem como as práticas dos/das estudantes, foram referidas como um dos principais meios de exploração de temas em ED. Verificou também que projetos institucionais de parceria com a comunidade contribuem para o desenvolvimento local, inclusão e inserção social.
- b) O que precisamos? Foi considerado relevante para responder a esta questão refletir sobre “se a parte representa o todo” e sobre a necessidade de agregar numa linguagem comum o conceito de ED, favorecendo a construção de uma identidade e intencionalidade promotoras de uma consciência coletiva.
Em relação à questão inicial, o grupo assumiu não ter chegado a uma resposta, quer afirmativa quer negativa.
Grupo II – Como se percebe a formação promovida nas ESE em relação à capacitação dos/as estudantes em ED?
Com esta questão pretendíamos entender se a formação promovida nas ESE contribui para o desenvolvimento de competências em ED nos/nas estudantes. A discussão gerada foi sistematizada nos seguintes pontos de observação:
- a) ED/ECG – Definição de conceitos / Representações na instituição e nos/nas professores/as. O grupo salientou que a apresentação e discussão dos conceitos deve ser alargada a todos os elementos da comunidade educativa, para que sejam apropriados por todos/as e devem ser incluídos nos diversos momentos de formação, incluindo a componente de iniciação à prática profissional, na qual os/as docentes e estudantes contactam com os contextos e com a comunidade. Foi apresentado o exemplo da ESE de Viana do Castelo, em que na UC Iniciação à Prática Profissional (IPP), do 2.º ano da Licenciatura em Educação Básica (LEB), são desenvolvidos projetos de intervenção no contexto educativo formal, sendo utilizadas metodologias de trabalho-projeto, em que os conceitos e práticas de ED/ECG são explorados.
- b) ESE – Missão / Finalidades / Projeto Formativo / Parceiros / Comunidade. O grupo evidenciou que a consistência do envolvimento das instituições com a ED/ECG pode ser observada na sua missão e no projeto formativo das ESE, expressos oficialmente nos textos da instituição. É desta forma que se apresentam aos parceiros e à comunidade, e que manifestam o seu comprometimento com os objetivos e as práticas de ED/ECG. A ESE de Santarém acentuou esta ideia, assinalando que tomaram consciência que havia muito trabalho disperso, ao qual não era dada visibilidade, e sentiram necessidade de constituir um grupo de trabalho para clarificar o “compromisso” da instituição com a ED/ECG.
- c) Formação – Oferta Formativa / Planos estudo / Programas das Unidades Curriculares. Foi indicado que a consistência do envolvimento das instituições com a ED/ECG pode ser observada também ao nível da oferta formativa, na estrutura curricular das suas formações e nos programas das UC. Parte do trabalho para promoção da ED/ECG pode ser desenvolvido no seio de algumas UC, em cada um dos percursos formativos lecionados, atualizando e adaptando objetivos, conteúdos e estratégias de ensino-aprendizagem. Foi avançado o exemplo da ESELx, na qual tem sido feito um trabalho de adaptação de alguns programas de UC, com base numa reflexão feita com professores/as e estudantes. Esta reflexão conduziu a uma “leitura” interpretativa do Referencial de Educação para o Desenvolvimento – Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário (Cardoso, Pereira, & Neves, 2016) e, consequentemente, ao aprofundamento e enriquecimento de saberes sobre ED.
- d) Estudantes – Representações dos/das estudantes sobre as aprendizagens em ED/ECG/Discursos. Foi salientada a importância dos/das estudantes serem não só recetores das práticas de ED/ECG, como também dinamizadores/as ativos/as destas. Para tal, é necessário que: (i) a intencionalidade das ações de ED/ECG, desenvolvidas nas ESE, seja percebida pelos/pelas estudantes; (ii) sejam (des)construídas algumas ideias existentes, muitas vezes indireta ou difusamente relacionadas com a ED/ECG, promovendo um diálogo “transparente”; e (iii) a ED/ECG seja trabalhada com todos os membros da comunidade educativa, nomeadamente: estudantes, com ênfase na necessidade de envolvimento das formações em áreas diferentes; funcionários/as; docentes e dirigentes.
Grupo III – Que desafios se colocam nas ESE na promoção da ED/ECG?
Para esta questão foram definidos os seguintes objetivos: (i) perspetivar formas de trabalhar a ED nas ESE; (ii) identificar dilemas e refletir sobre as formas de os ultrapassar; e (iii) elencar temas de trabalho.
O resultado da discussão gerada incidiu em dois pontos:
- a) o grupo refletiu sobre a educação enquanto projeto político de formação de professores/as em democracia e tentou perceber a importância de contextualizar práticas de ED/ECG na formação inicial de professores/as. A discussão levou o grupo a pensar em várias possibilidades de operacionalização, sendo muitas as questões levantadas, como: será imprescindível tornar a ED/ECG explícita nos curricula?; deverá ter um carácter obrigatório?; poderá ser um tema transversal aos curricula?; poderá ser uma unidade curricular? Outro aspeto considerado diz respeito à metodologia, salientando o grupo a importância do recurso a metodologias ativas e reflexivas baseadas numa participação efetiva da comunidade educativa.
- b) Discutiu-se sobre a (in)definição do conceito de ED e considerou-se necessário contribuir para uma clarificação concetual de forma a sintonizar formas de atuação entre todas as ESE que queiram dedicar-se às questões de ED/ECG. Neste sentido, pensou-se num próximo Encontro, o terceiro, para aprofundar este tema e refletir sobre a ED/ECG nos curricula de formação de educadores/as e professores/as.
Por último, promoveu-se a construção de um “mural das considerações para o futuro”, no qual cada participante foi convidado/a a refletir sobre a pertinência do tema do Encontro e a deixar algumas sugestões para o trabalho futuro. As ideias veiculadas pelos/pelas participantes foram: (i) adaptar e replicar a investigação e o questionário elaborado pela ESEB; (ii) partilhar, de forma mais frequente e regular, as informações/reflexões/preocupações e projetos entre as várias ESE, no domínio da ED/ECG; (iii) alargar a reflexão sobre ED ao nível da formação inicial e contínua e dos órgãos de gestão das escolas (ESE e Agrupamentos); (iv) garantir o encontro regular das ESE no âmbito da ED/ECG; (v) fazer um mapeamento mais específico de práticas de ED/ECG nas ESE e divulgá-lo; (vi) unir ideias, juntar esforços e trabalhar colaborativamente, sempre que necessário.
3. Refletindo sobre a ação desenvolvida, perspetivando o trabalho futuro
Neste ponto consideramos pertinente apresentar as reflexões do grupo colaborativo sobre a ação desenvolvida; o impacto desta nas instituições envolvidas; as aprendizagens efetuadas e perspetivas futuras de trabalho conjunto.
3.1. O II Encontro enquanto espaço de reflexão sobre ED/ECG
Para os elementos do grupo colaborativo, as questões levantadas reiteradamente, durante o Encontro, no que diz respeito ao campo da ED/ECG, deixam clara a importância de as continuar a debater e a aprofundar, num esforço de diálogo e de sistematização das mesmas.
A questão mais expressiva centrou-se na necessidade de uma definição comum e/ou delimitação da ED/ECG, dada a heterogeneidade de entendimentos e posicionamentos existentes. A partir dessa definição, importa perceber se para a ED/ECG ganhar maior visibilidade nos curricula é necessário ser legitimada, ou não, pela tutela. Esta questão remete para uma outra, que tem a ver com o entendimento mais ou menos alargado da ED/ECG como algo específico em termos curriculares ou como algo transversal que, em certa medida, se confunde, ou é semelhante, à educação como um todo. Ou seja, a ED/ECG deverá ser entendida como uma disciplina ou como uma abordagem pedagógica? Se, por um lado, a especificidade lhe confere visibilidade, por outro, a compartimentação, enquanto disciplina, não corresponderá ao reforçar de uma abordagem (positivista) que se quer contrariar?
Do Encontro resultam ainda outras questões que poderão alimentar e aprofundar a reflexão entre as ESE, nomeadamente: (i) as condições a criar ao domínio da ED/ECG em áreas de educação formal e a reflexão em torno da “educação” quando se fala em ED (uma vez que se tende a discutir mais o “desenvolvimento” ou a “cidadania global”, do que a “educação”); (ii) a necessidade de uma identidade da ED/ECG e de uma intencionalidade (uma não-neutralidade educativa) expressa, e (iii) a importância de efetivar a partilha de práticas e de estudos realizados nas diferentes ESE. Uma questão, embora menos referida, mas essencial, é a necessária presença de estudantes, não apenas como recetores/as e/ou participantes ativos/as nas ações de ED/ECG desenvolvidas nas ESE, mas também nas reflexões coletivas, como é o caso destes encontros.
Um dos principais pontos positivos do Encontro, que consideramos de grande importância, foi a partilha quer de projetos/processos/planos quer da análise conjunta dos desafios que estes colocam e das suas condições de replicabilidade.
3.2. O(s) impacto(s) do grupo colaborativo e da ação nas instituições envolvidas
O grupo colaborativo refletiu sobre os processos vividos no que diz respeito ao(s) impacto(s) da dinâmica do trabalho em parceria, nas pessoas envolvidas e nas instituições.
A organização do Encontro permitiu alargar a equipa inicialmente constituída pelo CIDAC e pela ESELx à ESEB e à ARIPESE. Este alargamento teve um importante impacto no trabalho iniciado em 2014 pois (i) integrou a experiência e os saberes de outra instituição de ensino superior (IES) localizada numa área geográfica muito diferente e (ii) ofereceu uma nova dinâmica ao trabalho desenvolvido entre 2014 e 2016.
As diferenças entre as quatro instituições – duas ESE com experiências muito diferentes na área da ED/ECG e duas associações de natureza diversa (CIDAC e ARIPESE) – revelaram-se como uma mais-valia para a concretização dos objetivos delineados, considerando a complementaridade possível nas várias fases do trabalho. Tal complementaridade parece-nos uma estratégia fundamental para garantir uma formação alicerçada em diferentes contextos de intervenção.
As distâncias geográficas transformaram-se numa oportunidade para experimentar novas metodologias de trabalho dentro da equipa. O recurso à videoconferência e ao email, que não deixaram de implicar um esforço de conjugação das diferentes disponibilidades, revelaram-se suficientes e, simultaneamente, fundamentais para a concretização do evento que se encontrava no centro da proposta de trabalho colaborativo delineada pela equipa.
Apesar de não serem sempre as mesmas pessoas das quatro entidades a estarem envolvidas na comunicação do grupo colaborativo (na ESEB estavam envolvidas cinco pessoas na organização), a disponibilidade de todas e o empenho contínuo das instituições é um aspeto a salientar.
Na perspetiva da ESEB, este grupo de trabalho colaborativo contribuiu para a construção de uma cultura de cidadania procurando um desenvolvimento crescente da participação dos/das vários/as intervenientes. Particularizando o impacto nas várias instituições adiantamos que, para a ESEB, o trabalho colaborativo constituiu mais um espaço de reflexão e questionamento conjunto sobre as temáticas da ED/ECG. Este ultrapassou os “limites” do grupo de trabalho em ED da escola (por definição e filosofia permeável) e estendeu–se à comunidade educativa que, ao longo do processo, se manifestou interessada na ação proposta e na possibilidade de nela participar, o que permitiu uma abordagem mais efetiva sobre as questões inerentes à ED/ECG. Por exemplo, ficou expressa uma vontade crescente em incluir nos planos de formação das licenciaturas alguns conteúdos que versem a ED/ECG, bem como a criação de uma UC específica de Educação para o Desenvolvimento, no curso de Mestrado em Educação Social. Houve também interesse em incluir um Eixo Temático de ED/ECG num dos Congressos Internacionais de Formação de Professores/as organizados na ESEB. Salienta-se este aspeto porque ilustra a importância da realização de eventos desta natureza quer ao nível dos resultados, mas também ao nível dos ganhos inerentes aos processos e dinâmicas de trabalho no âmbito da ED/ECG, para a consolidação (ainda que progressiva) de uma cultura institucional promotora de ED/ECG.
Do ponto de vista da ESELx, o seu envolvimento na realização deste trabalho colaborativo permitiu atingir dois objetivos: (i) dar continuidade à participação da ESELx no aprofundamento do estudo e da reflexão em torno da ED/ECG, integrada em projetos com a comunidade; (ii) dinamizar a formação da ESELx na vertente da ED/ECG no domínio da formação inicial de educadores/as, professores/as e da Intervenção Social. No que diz respeito ao primeiro objetivo, o trabalho colaborativo ofereceu à ESELx a oportunidade de continuar a aprofundar as suas ligações com outras instituições, reforçando, assim, os seus contatos com outras ESE e, principalmente, com as OSC. Deste modo, a ESELx, ao manter a sua presença no projeto Sinergias ED partilhou as suas experiências e tomou contato com o trabalho que se realiza quer em IES, quer em OSC. Quanto ao segundo objetivo, o envolvimento neste trabalho colaborativo constituiu um espaço de aprendizagem fundamental para alimentar os esforços da ESELx em manter uma componente formativa em ED/ECG nas suas diferentes áreas de formação, principalmente pela oferta de uma UC – Educação para a Cidadania Global – comum às suas licenciaturas.
Na perspetiva da OSC envolvida, numa reflexão sobre todo o processo de colaboração no âmbito do projeto Sinergias ED, existem algumas diferenças entre a colaboração em “dupla” (CIDAC e ESELx) e a colaboração no grupo mais alargado (CIDAC-ESEB-ESELx-ARIPESE). A colaboração no grupo alargado centrou-se na concretização de uma ação e menos num processo de interconhecimento entre os/as parceiros/as. Se por um lado, fez com que pesasse menos em termos de empenho, tempo e mesmo de forças colocadas na colaboração, tudo fluiu de forma positiva e fácil; por outro, não implicou um relacionamento mais profundo, fruto de discussões, conflitos, ação-reflexão, como na colaboração inicial. A realização do II Encontro das ESE representou um fim em si mesmo e repercutiu menos no CIDAC no que tange a aprendizagens, uma vez que pela sua própria natureza, se focava nas ESE. Permitiu, porém, um maior conhecimento da dinâmica do grupo ED da ESEB, que teve um papel central no desenrolar da ação. Esse conhecimento teve desdobramentos positivos e interessantes, como uma colaboração numa investigação de uma aluna de mestrado da ESEB.
A ARIPESE centrou o seu papel no empenho e contribuição em reunir o maior número possível de ESE numa reflexão conjunta sobre os tópicos em discussão. A ED/ECG tem sido um dos pontos de destaque no plano de atividades desta associação, pelo que foi manifesta a sua vontade em participar ativamente neste Encontro, que se tornou visível através da presença das várias ESE. O elemento da ARIPESE mais diretamente envolvido nesta participação e que integrou o grupo colaborativo, participando na planificação e organização do evento, sentiu que este momento foi de grande riqueza para as ESE envolvidas, logo para a ARIPESE. A dinâmica, relação e perspetivas de trabalho conjunto desenvolvidas e o aprofundamento do tema ED/ECG tornou possível a concretização do propósito principal da ARIPESE para este Encontro – continuar a avançar na discussão e prática da ED/ECG nas várias ESE em colaboração com as OSC.
3.3. As aprendizagens promovidas e perspetivas futuras
Quando refletimos sobre as aprendizagens realizadas é importante (re)assinalar que o Encontro contribuiu para, além da partilha de ideias e experiências diversificadas, aprofundar a reflexão em torno da definição concetual de ED, tornando possível a aproximação a um entendimento comum. Igualmente, entendemos que foi dado um claro contributo para obter e partilhar ideias sobre o que se tem feito nas ESE no âmbito da ED/ECG, das quais salientamos, concretamente (i) o tempo de experiência nesta área de formação; (ii) a diversidade dos objetivos e das metodologias; (iii) o lugar da ED/ECG na esfera do ensino formal das diferentes ESE; (iv) a necessidade de aprofundar o estudo e a reflexão em torno dos conceitos nucleares que integram, ou devem integrar, o quadro conceptual que orienta a investigação e a prática da formação em ED/ECG; e (v) o manifesto interesse das ESE em aprofundar o conhecimento e o debate (concetual e prático) sobre ED/ECG nos diferentes cursos oferecidos, tendo sido particularmente destacada a formação de educadores/as e professores/as.
Ficou também patente a reflexão sobre as responsabilidades/oportunidades das ESE na formação dos educadores/as e professores/as, ficando, contudo, distante a possibilidade de definir linhas de ação conjuntas para as ESE promoverem a formação em ED/ECG. Ao olhar para a ação desenvolvida por este grupo colaborativo ESEB-ESELx-CIDAC-ARIPESE, numa perspetiva de longa duração na colaboração IES-OSC, parece fundamental manter uma dinâmica que aprofunde o interconhecimento que resultou da organização e participação no Encontro realizado, criando uma dinâmica que possa alimentar os conteúdos abordados em encontros futuros e permitir uma maior articulação de visões e abordagens à ED/ECG. A possibilidade de trilhar este caminho passa pela mobilização das ESE para a formação inicial no âmbito da ED/ECG, necessidade de aprofundar o trabalho colaborativo entre as ESE e as OSC, enquanto estratégia fundamental para garantir uma formação alicerçada nos seus diferentes contextos de intervenção. Em particular, a complexidade da tarefa de comprometer a formação inicial de agentes educativos com o desenvolvimento de saberes e atitudes facilitadoras de uma cidadania ativa e responsável requer que se potencializem as oportunidades emergentes de aprender e se desenvolver, apoiando a concretização dos projetos que têm vindo a ser desenvolvidos nas diferentes ESE.
No que se refere a novas dinâmicas que se possam desenvolver sublinha-se a necessidade de conjugar esforços para promover a ED/ECG nas IES, destacando a necessidade de criação de espaços de diálogo e de reflexão, favorecendo oportunidades de questionamento conjuntos, partilha de ideias e de resultados de estudos desenvolvidos.
Pensando no futuro, a curto e a médio prazo, esta parceria colaborativa pretende continuar a trabalhar nesta problemática central: o papel das ESE na formação de agentes educativos no domínio da ED/ECG. Neste sentido, foram definidos os seguintes passos futuros e temporalidades para a sua concretização: (i) elaboração de um artigo discutindo os conteúdos dos dois estudos apresentados no II Encontro; (ii) realização de um estudo, tendo por base o questionário aplicado na ESEB e a sua (re)aplicação em outras ESE, entre 2018 e 2019; e (iii) realização de um novo Encontro de ESE, dando seguimento ao proposto pelos participantes.
4. Para finalizar
O trabalho colaborativo, na sua essência, contribui para o enriquecimento holístico dos elementos que integram o grupo. Segundo Alarcão & Canha (2013), o trabalho colaborativo é muito mais que uma expressão, é uma atitude, uma forma de estar. A procura de respostas às necessidades e aos objetivos comuns ao grupo colaborativo exige uma reflexão conjunta, uma partilha constante. A troca de ideias, o diálogo, a construção de um caminho plural, mas consensual, tornam-se pedra angular em qualquer processo de colaboração.
Este grupo colaborativo, de reflexão, inclui elementos de áreas diversas de formação e especialização, o que representa uma mais-valia para a construção de um olhar crítico reflexivo sobre os processos de formação e investigação promovidos e para ancorar a construção de práticas alternativas de intervenção e de relação. As formas diversas de participação e de colaboração que este processo integra contribuem para o desenvolvimento de saberes e poderes que facilitam a afirmação de identidades individuais e coletivas.
As ações desenvolvidas por este grupo colaborativo, nomeadamente o II Encontro “A Educação para o Desenvolvimento nas Escolas Superiores de Educação”, permitiram a consolidação das “sinergias” existentes e a identificação de possibilidades futuras de trabalho colaborativo entre diferentes instituições, mas também em cada uma das instituições através da identificação da necessidade/possibilidade de convocar para a participação, nestes fóruns de co-construção de conhecimento, outros atores da(s)comunidade(s) social/cívica, educativa e científica. A ação colaborativa tornou-se, desta forma, uma oportunidade de construção, transformação e de exercício efetivo da cidadania.
[1] Em representação do Grupo de Trabalho em Educação para o Desenvolvimento constituído por: Angelina Sanches, Conceição Martins, Elza Mesquita, Ilda Freire Ribeiro e Sofia Bergano.
Referências Biliográficas
- Alarcão, I. & Canha, B. (2013). Supervisão e colaboração – uma relação para o desenvolvimento. Porto: Porto Editora.
- Cardoso, J., Pereira, L. T. & Neves, M. J. (coords.) (2016). Referencial de Educação para o Desenvolvimento – Educação Pré-Escolar, Ensino Básico e Ensino Secundário. Lisboa: Ministério da Educação. Disponível em https://bit.ly/3IrbRB1.